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Comer e Curtir na Noruega: Veja como a Noruega faz do bacalhau uma grande indústria

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O motivo do interesse no produto é fácil de entender: o Brasil é o segundo maior importador mundial de bacalhau da Noruega (o primeiro é Portugal). São cerca de 15 mil toneladas ao ano (dados de 2022). O produto chega seco e salgado e segue um modelo de produção ancestral. Por isso, o termo “Bacalhau da Noruega” é aplicado para garantir que se trata do legítimo bacalhau Gadus Morhua (os outros peixes que consumimos aqui – Saithe, Zarbo e Ling – são considerados peixes “tipo bacalhau”). O Conselho Norueguês de Pesca, órgão de parceria público-privada daquele país, é responsável pela consolidação desse conceito.  A divulgação da forma tradicional de produção do bacalhau da Noruega é parte da estratégia de valorização da marca. Foi assim que viajei rumo ao país nórdico para descobrir detalhes sobre o peixe, sua pesca, salga e secagem. E, claro, degustá-lo de todas as formas possíveis!

Tradição 

Na Noruega, a indústria do bacalhau segue tradições que remontam centenas de anos. Nem por isso, deixa de ser moderna. Há empresas especializadas na salga do bacalhau, outras na secagem, outras recebem o peixe fresco e fazem a limpeza (vísceras e cabeças são separadas). Na viagem tivemos oportunidade de acompanhar cada fase dessa indústria. Começamos por empresas do porto de Myre, que recebe bacalhau fresco. O Myre Saltfish Group faz a limpeza e salga do bacalhau, na proporção de 1 kg de sal (vindo da Tunísia) para cada quilo de peixe. Depois, o produto é encaminhado para empresas de secagem. Esta é feita normalmente na bela cidade de Alesund, conhecida como capital mundial do bacalhau. Ali visitamos a Brødrene Sperre e a Jacob Bjørge, ambas empresas familiares de secagem de bacalhau, com várias gerações à frente dos negócios.

Salga do bacalhau em Myre (foto SM)
E em clima de aventura, embarcamos num barco pesqueiro (para turistas) no porto de Myre em busca do Gadus Morhua. O mar estava muito mexido, frio de menos 16°C. Não deu pra pescar (só o pescador arriscou e pegou um peixe). Mas foi ótimo para experimentar a emoção do mar da Noruega e tudo que os pescadores enfrentam para que tenhamos um delicioso bacalhau na nossa mesa! Há grandes barcos com capacidade para limpar e congelar os peixes em poucas horas. Assim conservam a carne fresquíssima. Do mar, vão direto para as fábricas que salgam e secam os peixes.
Na Brødrene Sperre, o peixe sai da salmoura depois de duas semanas, é lavado e salgado novamente. Depois vai para a estufa de secagem, com vento constante a 22º C. Os maiores ficam de dois a três dias, são retirados e descasam um dia. Depois voltam por mais 24h para finalizar a secagem. Por fim, estão prontos para exportação.
Estufa de secagem do bacalhau com vento a 22º C
A Jacob Bjørge envia cerca de 70% de sua produção de Gadus morhua para o Brasil. A empresa é familiar, fundada em 1937 e está em sua quarta geração. O foco é trabalhar mais com qualidade do que quantidade. Ainda assim processa 40 toneladas ao dia. São peixes maiores, mais velhos (vimos alguns pescados que teriam pelo menos 15 anos) e rendem um produto de altíssima qualidade – e consequentemente, um pouco mais caros do que os outros. O processo todo, da pesca à exportação, pode levar um ano. Então, o bacalhau graúdo da nossa Páscoa de 2023 foi pescado, salgado e seco há cerca de um ano.
Bacalhau seco e pronto para exportação (fotos SM)
Veja curiosidades sobre a produção de bacalhau

A jovem Thilde segura uma cabeça de bacalhau. Ao lado dela, um espeto de línguas do peixe*
 O bacalhau recém pescado é comprado pelas empresas por leilão on line, intermediado pelo governo. Assim, há equilíbrio entre as partes para negociação.
  • A salga do bacalhau leva pelo menos duas semanas. Depois de ficar nessa salmoura, o peixe é lavado e novamente salgado para ir para a secagem.
  • * A proporção é de 1kg de sal para 1 kg de peixe.

* Bacalhau tem cabeça, sim! E ela é seca e exportada para países africanos, em especial a Nigéria. Lá, normalmente vira sopa. * Tradicionalmente na Noruega quem tira a língua do bacalhau (que é uma iguaria muito apreciada) são crianças. Elas trabalham na indústria desde pequenas, aos 6, 7 anos. E o dinheiro deve ser delas apenas, não da família. Conhecemos a Thilde, de 14 anos, que desde os 6 trabalha nisso. Ela trabalha apenas de janeiro a abril, período da pesca de bacalhau. * Do bacalhau tudo de aproveita. As vísceras e espinhas são usadas na indústria de cosméticos e na biomedicina (ômega 3, colágeno e óleo de bacalhau). * A exportação de bacalhau se concentra no peixe seco e/ou salgado. Mas na Noruega, o consumo é basicamente de bacalhau fresco, que, aliás, é delicioso.

*Bacalhau tem uma pele escura na barbatana da qual os brasileiros não gostam. Por isso, nos peixes enviados ao Brasil essa pele é retirada manualmente, o que encarece o produto.

* Quando o bacalhau é salgado ainda fresco, fica com uma cor amarelada. Porém, quando é salgado depois que foi descongelado, a carne fica branca. *  O processo todo, da pesca à exportação, pode levar um ano para peixes maiores, e bem menos tempo para os menores, os chamados “tipo bacalhau”. Porém, quanto mais tempo o bacalhau passa secando, mas saboroso fica. Provamos um Gadus com três anos de secagem e estava incrível!

* A jornalista viajou a convite do Conselho Norueguês da Pesca em março de 2023

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