A tradicional Carne de Onça, prato típico da culinária curitibana, acaba de conquistar o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) do tipo Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A resolução foi publicada nesta segunda-feira (20) na Revista da Propriedade Industrial.
A solicitação foi apresentada pela Associação dos Amigos da Onça, entidade dedicada à valorização do prato e à preservação de suas raízes culturais. Para o presidente da associação, Sérgio Medeiros, a conquista vai muito além de um selo oficial. “A IG é uma ferramenta estratégica que valoriza territórios, fortalece identidades culturais e impulsiona transformações econômicas”, afirma.
Segundo Sérgio Medeiros, o reconhecimento apenas confirma um legado que já existia. “Ninguém cria uma IG. Ela já existe. No caso da Carne de Onça, desde os anos 40”, reforça. E celebra: “A conquista da IG garante proteção ao esforço coletivo e à nossa cultura. Sim, a onça é nossa! Viva a onça! Viva Curitiba!”.
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A ação para obter a IG uniu o Sebrae/PR e a Associação Amigos da Onça, numa parceria que começou em janeiro de 2023, seguindo o protocolo e a metodologia do INPI. A consultora do Sebrae/PR, Márcia Giubertoni, destacou o envolvimento dos empresários na busca pela Indicação Geográfica da Carne de Onça de Curitiba. Ela enfatizou ainda o trabalho realizado pelo Sebrae/PR junto aos empresários, abordando aspectos como associativismo, liderança, além da caracterização histórica e da organização de documentação para a proteção do produto.
História da carne de Onça
Apesar do nome — associado ora ao hálito forte da carne temperada, ora ao apetite do felino —, a Carne de Onça é feita com carne bovina crua, fresca, servida sobre fatia de broa de centeio, com cebola branca, cebolinha verde, azeite, sal e pimenta. De acordo com Sérgio Medeiros, a origem do prato remonta à década de 1940 e se entrelaça com o futebol local.
Na época, Cristiano Schmidt, diretor do clube Britânia e proprietário do bar Toca do Tatu, oferecia aos jogadores carne crua com os mesmos ingredientes que hoje compõem a receita. O nome “Carne de Onça” teria surgido após uma reclamação bem-humorada do goleiro Duia, que brincou: “Você só serve essa carne aí, que nem onça come”. A frase pegou — e o prato entrou para o cardápio, espalhando-se por outros bares da cidade.
Tradição
Com a IG, o prato passa a contar com regras específicas de preparo e apresentação, formalizadas no Caderno de Especificações Técnicas aprovado pelo INPI. São três as variações autorizadas:
- Carne crua disposta sobre a broa de centeio, coberta com cebola e cebolinha, temperada com sal, pimenta e regada com azeite.
- Carne previamente misturada aos mesmos temperos apenas no momento de servir, preservando a coloração, acompanhada de cebola e cebolinha por cima.
- Carne temperada na hora com sal, pimenta e azeite, com os demais ingredientes servidos separadamente, para que o cliente monte o prato ao seu gosto.
Desde 2014, o prato é celebrado anualmente no Festival de Carne de Onça, promovido pela Curitiba Honesta, reunindo bares da capital em torno da iguaria. Em 2016, o prato foi declarado oficialmente Patrimônio Cultural Imaterial de Curitiba, reforçando seu lugar de destaque na identidade gastronômica da cidade.
Com a IG, a Carne de Onça passa a integrar o seleto grupo de produtos com reconhecimento nacional de origem, contribuindo para a valorização da culinária local.
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